nicotina

o fumo das coisas

terça-feira, junho 07, 2005

Seis e Tal, Quase Sete

Gosto de me sentar no parque do Príncipe Real, à tarde, por volta das seis, sete horas, para ver o sol esconder-se devagarinho no horizonte, e depois já é noite e as luzes amarelas da cidade estão todas acesas.

Sentar-me e olhar a imensidão das àrvores com o reflexo dourado do sol trás-me sentimentos alegres e tristes, tal como o dia e a noite, dois paradoxos sem os quais não podemos viver.

A solidão nunca me afectou, nem o amor me interessa na rotina diária do fumar cigarro atrás de cigarro para passar o tempo. O dia nunca me atormentou como a noite, de dia vive-se e respira-se, e de noite também. De noite evoca-se novamente a solidão como desculpa para tudo.

Detesto ter que inventar desculpas para a minha comoção diária. Prefiro sentar-me no parque e comer uma maçã vermelha, imaginando que Eva também andou por ali e que um dia as suas unhas se fixarão na minha pele, arrancando pedaços e guardando-os numa caixinha de madeira.

Eva atormenta-me com a sua magia solar. Por onde anda ela? Ontem procurei no Chiado, por entre as ruas apinhadas de futilidade, não estava lá. Procurei no Bairro Alto e perguntaram-me se queria droga. Procurei em minha casa e só encontrei pó.

Sosseguei e pensei que ela iria aparecer quando o ciclo terminasse.

Mas o ciclo ainda não começou.

Gosto de sentar-me no parque do Principe Real, à tarde, por volta das seis, sete, e observar o por-do-sol pensando em ti e no mal que me fazes.

domingo, junho 05, 2005

Como o Sol Brilha em Cascais!

Estamos já em Junho, e a multidão veraneante encarrega-se de empacotar pilhas de comida dentro de tupperwares e lança-se à procura da praia mais empilhada do sul de portugal. É com gosto que se observa a aragem humana a esturricar na areia imunda, indo ao banho de vez em quando na certeza de voltar para a toalha para colocar mais um pouco de protector solar factor 69.

É incrível como a saloiada adere à massificação da estupidez do "estender ao sol", e mesmo quando o sol descança, no Inverno, há solarios e merdas dessas 'prás meninas ficarem com a marca do bikini no sitio certo.

O problema é quando o bikini muda e a marca não fica correctamente alinhada com as banhas peitorais e é uma porra.

Verdade meus amigos, a tão falada "Marca do Biquini" já é património mundial! Vivam as badochas à mostra e pedaços de coxa mal-amanhados por dentro de umas cuecas saco-de-pão-fio-dental-incluido-que-se-troca-tipo-televendas, bikinis reduzidos e a sufucar o reservatório de cálcio das gerações vindouras, vivam os cabelos e o caralho dos óculos de sol tipo Júlia Pinheiro, grandes como a merda e que não ficam bem em lado nenhum.

O que me irrita mais, é a onda do chinelinho. Nem é irritar, é mais um fungo crónico, cerebral. Ainda sou do tempo da empregada-vulgo-dona-de-casa-que-hoje-em-dia-não-se-pode-chamar-empregada-a-ninguem-somos-um-pais-desenvolvido-e-são-todas-donas-de-casa-já-para-não-dizer-saloiada-e-fugir-à-rotina-comercial vinha à rua com a sua meiazinha de vidro e chinela no pé bolorento, deitar o lixo fora ou comentar mais um pedaço de vida alheia.

Nessa altura, a onda do chinelo era servir tanto de objecto ameaçador ("Caralho, que te avio 'cu chinelo!") como de indicador de classe social (estatuto, portanto).

Hoje em dia, toda a gente usa chinelos e é um objecto fashion. Não me atormenta o objecto em si, que considero até, visualmente, estimulante, mas sim a "onda do chinelo", um estado mental de alto degredo político.


Pá, é meio dia e não tenho cigarros, poderia ser pior. Podia falar de nêsperas era a mesma merda.

Saudações galáticas do vosso enviado a Cascais, 'tá um sol fixe e há gajas a mais.



todos os textos e todas as fotos (c) joão amorim 2005