nicotina

o fumo das coisas

segunda-feira, março 10, 2008

fugu, parte 2

Como prender uma mulher?
Esguia e felina
dum porte semântico
e garras afiadas
que encostam-te ao solo
onde o amor já morreu.

Entrando cá dentro
tingida de negro
cá espero o teu sopro
que me leve para longe
e me sangre os sentidos.

Tres mulheres beijei
na miragem do sonho,
três sorrisos amei
em poucos segundos,
só pergunto se acaba
quando o dia começa.

Se a minha garganta secar
como dizer-te, então,
e prender-te,
nua,

Como fazer-te real?

fugu,

tua tosse
(ao longe)
nos lençois te estendes
sonhando os teus
porquês.

meu corpo inquieto
no fumo se acode
e em sonhos acorda
sonha sempre
com os olhos de fora.

o contar do tempo
e as respostas que tardam,
o cair da noite
e a insónia de perto,
a vontade de um corpo
formado cá dentro
suspiro de sede
fome de calor.

garrafa de vinho
sem pinga que reste
este corpo
enlouquece
sem nada que venda
é martir embrutecido
esperando redenção.



todos os textos e todas as fotos (c) joão amorim 2005