nicotina

o fumo das coisas

terça-feira, março 28, 2006

Basta-me um pequeno reflexo dos teus olhos (...)

Basta-me
um pequeno reflexo
dos teus olhos
para compreender
o dilema da tua
existência.

Basta-me
olhar
para essas
pequenas
sandálias
de salto
alto
altíssimo
para chorar.

Basta-me
um toque,
um leve toque
na tua saia
rodada
sobre as pernas
escondidas
em creme de sonho
para sorrir.

Basta-me
basta-te,
basta.

Saber sorrir
e enfrentar-te
e resistir
à tentação
de levar-te
para casa.

quarta-feira, março 22, 2006

A Tua Discoteca Favorita

Pergunto à chuva qual será o ritmo de hoje. Leio tudo o que posso antes de sair de casa - as notícias todas dizem que estarás aqui ao pé e sinto-me bem. O coração aquece com a música que toca no leitorzito que é tao sedoso quanto as tuas costas limpas, brancas, puras. Todas essas caras desconhecidas no metro cada vez me dizem menos - é em ti que penso, em ti como uma abstracção, como uma cor, ou uma variação, ou um kick 4/4 seguido de um baixo atómico, pulsante, como o meu coração.

É tão estranho ter o que os outros não têm - a solidão. É um privilégio diário ver as coisas do outro lado, do lado de fora, do lado da objectiva fotográfica que capta aquilo que não pode ser visto a olho nu. Espelhar os sentimentos e guardá-los numa caixinha para depois dar como prenda, dentro de um pastel de nata.

Entro numa loja e há alguém que me sussurra: "Toda a gente tem um namorado" como quem diz que vai chover. Olho para a montra decorada com celofane azul e respondo que a minha eterna felicidade pertence à Natureza.

Tenho esse casamento marcado para o amanhã, e não preciso de aliança.

É bom saber que ela está em boas mãos. Como ele disse: É tão facil, quando gostamos...

É demasiado facil gostar, é demasiado facil viver apenas disso - do gostar. Desse conjunto de sentimentos que é o amor.

É demasiado fácil sair e dançar à chuva.

É demasiado, para uma alma tão fraca...

terça-feira, março 07, 2006

A Pesada Incerteza da Responsabilidade

Nem um quarto de século ainda, apenas vinte luas bem contadas, sentido que a expêriencia ainda se encontra ao alcance. Várias faces distorcidas e apenas a certeza de ser único. A reflexão mórbida, no espelho, diz que ainda falta muito para lá chegar. Visto-me de mil e uma cores e todas elas são belas.

No bolso apenas aquilo que semeei, um longo e árduo caminho de liberdade.



todos os textos e todas as fotos (c) joão amorim 2005