Querida Telma:
Recrio-me na ignorância da memória. Que prato fraco, recolher os restos das aventuras passadas e publicá-las em revista para maiores de oitenta negações do amor. É incrivel como todos esses corpos ainda me são alguma coisa, e como o tempo os moldou ao meu sabor, passada a adolescência frenética do experimentar.
Contudo, essa imensidão de almas corpos e suor não é nada, comparada com o que se sente no momento. É saboreares sem dares conta que és a pessoa mais feliz do mundo? Cozinhares o teu amante vegetariano num prato de carne e obrigares-te a seres maior que os Homens?
E esses Homens...esses homens são fracos! Basta um piscar de olhos, eles vão ficar loucos! Basta dizeres que passaste metade da tua vida a perguntares-te "Porquê" que eles vão perceber.
Sim, sim! Os Homens! Ou já não te lembras deles? Já os deves considerar supérfulos. A avaliar pelos teus requintes de criança que quer continuar a desbravar o mundo com um olhar cinematográfico qb, já os deves ter todos na algibeira.
Quantos anos? Uns seis, sete? Ou muito mais? Sabes o que é a eternidade? A eternidade é o desejo para que as coisas acontecam. No teu caso foi-te consedida a liberdade do eterno.
Que inveja! Gostava de ser como tu, com essas asas e poderes, estar aqui sem estar, sofrer sem sofrer, ser mais linda que a Ana Isabel, ser mais linda que as coisas físicas alguma vez podem ser (sim, mas tu és de carne e osso, ou não?).
Sempre pensei em ti como um anjo pagão. Uma fada esvoaçante e agressiva que nos prende a consciência até ao estado de pura loucura.
Do meu mundo, as noticias são estas:
Percebes?