nicotina

o fumo das coisas

segunda-feira, março 10, 2008

fugu, parte 2

Como prender uma mulher?
Esguia e felina
dum porte semântico
e garras afiadas
que encostam-te ao solo
onde o amor já morreu.

Entrando cá dentro
tingida de negro
cá espero o teu sopro
que me leve para longe
e me sangre os sentidos.

Tres mulheres beijei
na miragem do sonho,
três sorrisos amei
em poucos segundos,
só pergunto se acaba
quando o dia começa.

Se a minha garganta secar
como dizer-te, então,
e prender-te,
nua,

Como fazer-te real?

fugu,

tua tosse
(ao longe)
nos lençois te estendes
sonhando os teus
porquês.

meu corpo inquieto
no fumo se acode
e em sonhos acorda
sonha sempre
com os olhos de fora.

o contar do tempo
e as respostas que tardam,
o cair da noite
e a insónia de perto,
a vontade de um corpo
formado cá dentro
suspiro de sede
fome de calor.

garrafa de vinho
sem pinga que reste
este corpo
enlouquece
sem nada que venda
é martir embrutecido
esperando redenção.

quarta-feira, junho 20, 2007

de morango

como se
(de repente)

as folhas começassem de novo a cair
o sol por entre as gotas da chuva surgir
e as janelas de novo mostrar
a estrada que lá deveria estar.

como se
num instante

tudo fosse inventado.
as páginas em branco
lentamente desenhando

como se

dantes fosse só inverno
apenas vento
num rumo incerto
um pranto tão certo.

hoje começa,
num beijo suave
este caminho tão perto
neste beijo urgente.

um coração que se move
de encontro ao céu
mãos dadas em coro
neste tempo tão meu.

sábado, junho 02, 2007

Estende a tua pele

Estende a tua pele
de encontro ao meu corpo
eleva-te no espaço
e alcança a imortalidade
no meu beijo-resposta.

No meu beijo de troca
quando o teu corpo
se derrama sobre o meu
e te rendes, felina e cega,
à minha luta dos sentidos.

Estica o coração,
já é tempo de aprender.

Rosa

Deste lado, uma rosa,
é o que peço.

Uma rosa sobre
o meu quente,
um toque de seda
no meu corpo.

Uma rosa apenas
nesta mão que se estende
eternamente
ao teu calor;
para te aquecer, para te tornar
menos fria neste tempo
em que escondes à sombra.

Para que me estenda
na tua pele
e me perca no teu sangue
uma rosa apenas,
meu amor.

sexta-feira, abril 13, 2007

esta solidão que me concedes
é também o desafio do amor,
conhecer sem conhecer
entrar sem bater à porta.

esta ansieadade,
feita de porquês.

concedes-me o dom
do desafio
em cada dia que se atrasa.

uma vida inteira.

terça-feira, março 13, 2007

melodia

olha me nos olhos
e sente a saudade.

nem o pó do tempo
nem a ampulheta de areia
apagam a magia
que cá dentro
revolta
a fúria do respirar.

nem as chagas
antigas
que custam a sarar
apenas
o sonho em nós
apenas
a melodia no teu olhar.



todos os textos e todas as fotos (c) joão amorim 2005