nicotina

o fumo das coisas

quinta-feira, abril 13, 2006

Amêndoa

Esta noite cozinho os meus sonhos numa panela de pressão, prestes a rebentar. Quem quiser, é bem vindo, venham conhecer-me, adquirir-me, comprar-me (eu deixo).

Esta noite recrio-me com a gentileza de quem nunca é igual, de quem deixa entrar o sol pela janela aberta todos os dias, de manhã, e se comove com um simples plano geral da lua, lá em cima, mais bela que todos os humanos.

Esta noite ensaio a solidão, com a certeza que é eterna, sem pudor. A música vai tocar alto, chegarei ao céu, vou dançar sozinho sem ter que me lembrar de ninguém, sem remoer o pedaço mais fraco do meu ser.

Um prato de emoções, servido quente, conquisto-te pelo olhar.

Se deixares.

Se vieres.

Se me chamares lá de baixo, da rua, ou tocares com o teu dedo na campaínha - eu vou ouvir - e depois afagares os teus cabelos com um suspiro de desejo - quero estar contigo.

Contigo e com todas as formas do teu ser, quem quer que sejas. Desde que apareças do vazio para me conquistar, romper as minhas roupas e os meus preconceitos e elevares-me à eterna possibilidade - todas elas.

Ensaio um jantar, à luz da lua. Cozinho com preceito, rigor e substância, e janto sozinho. Como todas as outras noites. Acendo um cigarro, no final, e tento arranjar algo mais que fazer, que pensar, é mais facil ocupar o tempo com o nada do que o nada te ocupar o tempo. É mais dificil gostar que ser gostado mas tu preferes a outra hipótese - dou-te todas elas e mesmo assim escolhes fugir-me.

Um prato de carne num dia santo. És tu, despida do mundo, despida de mim. O teu lado espiritual mais forte - eu, a tua coragem. O teu amor - qualquer um - transforma-te - energiza-te. Dá-te ao mundo como ele quer que sejas:

Assim,
suja,
eternamente complexa.

Minha. Tua.

Segredos, não ouso revelar nada mais que a minha solidão, e essa entrego-a a ti. Toma-me e bebe-me de um trago voraz. Não há mais.

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